EDITORIAL
FICHA TÉCNICA:
PHOTOS: ÍCARO MACHADO
STYLISTING: KD CARLOTA
MAKE AND PROPS: ANDARILHO ATELIÊ
MODELS: FÉLIX FELZKE
MONTAGEM, VIADO!
Por Ícaro Machado
Tudo mundo nu. Os tecidos em tons claros e cores em estampas trazem as nuances da estética interiorana que se pretende trazer para o início deste editorial. É criada uma atmosfera de nudes em cores, realçando os corpos, as formas e as transparências. Tudo é visto: o tal homem feminino verbalizando os seus caracteres desnudos de moralidades e símbolos tidos como femininos.
As longas e colorizadas transparências montadas pelo stylisting Carlota (kdcarlota), dão aos nudes um brilho, então camadas corporais são ilusionadas. Mas, quando a luz é difusa, e a imagem trabalhada, temos nudes em cores e cortes em silhuetas que levantam a máxima do editorial: somos meninas? O nude em cores quebra o paradigma do se transvestir-se de feminilidade. Agora, desnudos, o que faz de nós femininas? A nudez nos é igual. Couro. Pele. Ossos.
Seguindo, temos o florescer, que realça a descoberta e o amadurecimento para a coisa. O reconhecimento corpóreo, a aceitação de ser feminina. A construção de um novo eu. Nesse processo, temos uma fotografia mais catalogada num estilo europeu, onde harmoniosos jardins ilusionam uma vida tranquila que não às pertencem. O chifre do veado agora é incorporado (adereço criado pelo Andarilho ateliê) como num discurso em que a sociedade deixa claro para que não nos esqueçamos do que isso se trata: bichas travestidas de mulher – e elas são lindas.
Em sequência, seguimos para o embaço diário: o embaraçoso. Rostos limpos se cruzam e os corpos se deleitam. São exatamente 16:20hrs, e tudo segue tranquilo. O estar linda é equiparado a essência feminina - congruência. A verossimilhança atenua essa comparação, transferindo a beleza do viado à sua semelhança com a mulher. Parecer com, é descaracterizar-se, talvez..., mas não importa: elas estão maravilhosamente belas em suas peculiaridades e nunca foram tão femininas...
TRANS É MODA: FINALIZAÇÃO_
Mulher-Trans. No telhado da Casa do Estudante do Ceará, BR – reduto dos interioranos em Fortaleza –, o ensaio-fragmento aberto Ser Menina finaliza esse editorial. A insinuação, sensualidade e feminilidade em contraste com as transparências das organzas (peças do Estilista Félix) e as cores estampadas nas viscoses antes cruas, dão forma as falésias de Canoa Quebrada – proposta do estilista Carlota. Tudo corre em uma diagramação que desliza levemente na tela, onde as fotos surgem e desaparecem com a mesma intensidade. Elas não questionam. Elas não discutem. Elas agora querem ser meninas.
E são.