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 poesia 

Pensei em escrever sobre você, que me transborda(ou), e isso já faz de mim, um poeta errante, talvez, apaixonantemente desinteressante. O quanto sou desastrosamente iludido: que deselegante se apaixonar assim por nada... e "que golpe!", como diria Lispector.

 

Penso em descrever o quanto o teu sorriso bêbado é bonito, e o quanto teu beijo medroso é bom. Escrever sobre o quanto sinto esse você, que talvez você nem saiba que o tem — talvez nem você seja seu ainda, alheio de si, feito por outros... —, sei lá, de relance, esse nosso lance nada mais é que uma passagem medrosa só de ida, por que, meu amor, não tem volta! E não se sabe de onde foi a partida — partiu de mim, ou foi você que me puxou bêbado? Talvez seja apenas o desencanto da solidão que tenho tido desde o último amor passado... passado comigo. 


Pensei em descrever tudo o que pensei, o quanto eu via de você: esguio; branco pálido; bigode negro carregado, estrategicamente pensado: senhoril que pensa ser, virilidade que lhe falta; moleque que se é. Sim, você ainda é jovem e medroso... 
 

Nesse equívoco — que foi gostar de você —, percebo que o que desejo de você é o que mais lhe falta: amor. E eu nem sei se tenho o bastante para nós dois. É que sou menino do mar, sou salgado: filtro e seco, dou gosto, e, quando demais, salgo.

 

[eu até gostei do teu cabelo novo, mas já nem me serve mais]

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